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A síndrome da Arca - Porque não conseguimos equilibrar crescimento e sustentabilidade em nosso mundo

Atualizado: 3 de fev. de 2020



Será que a economia efetivamente continuará crescendo para sempre? Isso não levaria ao esgotamento dos recursos - emperrando e forçando a uma parada?

Para poder assegurar um crescimento perpétuo, temos que descobrir uma fonte inesgotável de recursos.

Uma solução consiste em explorar e conquistar novas terras e territórios. De fato, durante séculos, o crescimento da economia europeia e a expansão do sistema capitalista apoiaram- se pesadamente em conquistas imperiais no além mar. Contudo, na Terra existe um número determinado de ilhas e continentes. Alguns empreendedores esperam no futuro explorar e conquistar novos planetas, e até mesmo galáxias, mas por enquanto a economia moderna tem de encontrar um método melhor para se expandir.

A ciência tem provido a modernidade como uma alternativa. A economia da raposa não tem como crescer, pois a raposa não sabe como produzir mais coelhos. A economia do coelho estagna, porque os coelhos não tem como fazer o capim crescer mais de pressa.

Mas a economia humana pode crescer por que humanos são capazes de descobrir novos materiais e fonte de energia. A tradicional visão do mundo como uma torta com tamanho pré-fixado pressupõe que só existem dois tipos de recursos:

Matérias primas e energia Mas, na verdade, são três: Matérias primas, energia e conhecimento Matérias primas e energia são esgotáveis - e quanto mais se usa, menos tem. O conhecimento, em contrapartida, é um recurso em crescimento - quanto mais se usa, mais se tem. Realmente, quando você aumenta seu repertório de conhecimento, ele é capaz lhe dar mais matérias-primas e mais energia.

Se eu investir US$ 100 milhões procurando petróleo no Alasca e eu encontrar, terei mais petróleo, mas meus netos terão menos desse recurso do que eu. Porém, se eu investir US$ 100 milhões na pesquisa de energia solar, e descobrir uma maneira nova e mais eficaz de controlá-la então meus netos e eu teremos mais energia.

Durante milhares de anos, o caminho científico para o crescimento ficou bloqueado porque se acreditava que as escrituras sagradas continham todo conhecimento importante que o mundo tinha oferecer. Uma corporação que acreditasse que todos os campos de petróleo do mundo já tinham sido descobertos não desperdiçaria tempo e dinheiro procurando petróleo. Da mesma forma, uma cultura humana que acreditasses já saber tudo o que valia a pena ser sabido não se daria ao trabalho de buscar novos conhecimentos. Essa foi a postura da maoria das civilizações humanas pré modernas. No entanto, a revolução científica libertou o gênero humano desta convicção. A maior das descobertas científicas foi a descoberta da ignorancia.

Uma vez que os humanos se deram conta de quão pouco sabiam sobre o mundo, eles tiveram um motivo muito bom para ir em busca do conhecimento, o que abriu caminho para o progresso.

A cada geração, a ciência ajudou a descobrir novas fontes de energia, novos tipos de matéria prima, melhor maquinaria e métodos de produção inovadores.

Consequentemente, em 2020 o gênero humano tem domínio sobre muito mais energia e matérias primas do que jamais teve, e a produção dispara. Invenções como motor movido a vapor, o motor de combustão interna e o computador criaram indústrias totalmente novas.

Quando olhamos para o futuro daqui a 20 anos, esperamos confiantes produzir e consumir muito mais em 2036 do que produzimos e consumimos na atualidade. Confiamos da nano tecnologia, na engenharia genética na inteligência artificial para revolucionar a produção ainda mais uma vez e para abrir seções totalmente novas em nossos supermercados sempre em expansão.

Portanto, temos uma boa chance de superar o problema da escassez de recursos.

A nêmesis real de economia moderna é o colapso ecológico.

Tanto o progresso científico como crescimento econômico tem lugar numa biosfera frágil, e, à medida que guanha impulso, suas ondas de choque desestabilizam a ecologia. Para poder oferecer a cada pessoa no mundo um padrão de vida semelhante a dos americanos abastados, precisamos de alguns planetas a mais - entretanto só dispomos deste.

Se o progresso e crescimento terminam com a destruição do ecossistema, o custo será cobrado não apenas de morcegos vampiros, raposas e coelhos, mas também do Sapiens. Uma desintegração ecológica causaria ruína econômica, tumulto político queda do padrão de vida humano e poderia ameaçar a própria civilização humana.

Poderíamos atenuar o perigo diminuindo ritmo do progresso e do crescimento. Se investidores esperam este ano 6% de retorno em seus portfólios em 10 anos ficariam satisfeitos com 3%, em 20 anos com 1% apenas, em 30 anos economia deixaria de crescer e ficaremos felizes com que já tivéssemos.

Mas o credo do crescimento se opõe firmemente a uma ideia tão herética. Em vez disso, ele sugere que a aceleremos o passo.


Se nossas descobertas desestabilizam o ecossistema e ameaçam a humanidade, então deveríamos descobrir algo para nos protegermos. Se a camada de ozônio está definhando e nos expondo ao câncer de pele, deveriamos inventar filtro solares melhores e tratamentos mais eficazes para o câncer, promovendo com isso o crescimento de novas fábricas de filtro solares e centro de tratamento de câncer. Se todas as novas indústrias poluem a atmosfera e os oceanos, causando aquecimento Global e extinção em massa, deveríamos construir mundos virtuais e santuários de alta tecnologia que nos fornecesse todas as coisas boas da vida, mesmo que o planeta esteja quente, deprimente e poluido.

Beijing já se tornou tão poluída que as pessoas evitam ficar ao ar livre, e chineses ricos pagam milhares de dólares por sistemas de purificação de ar em ambientes fechados. Os super ricos constroem engenhocas de proteção até mesmo em seus quintais. Em 2013, a Escola Internacional de Beijing que atende a filhos de diplomatas estrangeiros da classe alta chinesa, deu um passo além e construiu uma cúpula gigante de 5 milhões de dólares sobre suas 6 quadras de tênis e seus campos de futebol. Outras escolas estão fazendo o mesmo, e o mercado chinês de purificação de ar está estourando. Obviamente, a maioria dos residentes em Beijing não pode se permitir tamanho luxo, nem pode matricular seus filhos na escola internacional.

O gênero humano vê-se confinado a uma corrida dupla. Por um lado, no sentimos compellidos aumentar o ritmo do progresso científico e do crescimento econômico. Um bilhão de chineses e 1 bilhão de indianos querem viver como americanos de classe média e não vem motivo para conter seus sonhos, enquanto os americanos não se mostram dispostos a abrir mão de seus veículos utilitários esportivos e de seus centros comerciais. Por outro lado, temos de nos manter pelo menos um passo a frente do armagedon ecológico. Manipular essa corrida dupla fica cada vez mais difícil, pois cada passo que aproxima os moradores de uma favela em Nova Délhi do sonho americano também leva o planeta para 1 ponto mais próximo da beira do precipício.

A boa notícia é que durante centenas de anos o gênero humano usufruiu de uma economia em crescimento sem cair vítima da desintegração ecológica. Muitas outras espécies pereceram neste processo, os humanos também tem enfrentado crises econômicas e desastres ecológicos, mas até agora conseguimos atravessá-los.

Mas o sucesso no futuro não está garantido por alguma Lei da natureza. Ninguém sabe se a ciência será sempre capaz de simultaneamente salvar a economia de congelar e a ecologia de ferver. E como o ritmo só acelera, as margens de erro continuam a se estreitar. Se antes era suficiente inventar algo espantoso uma vez por século, hoje temos de arranjar um milagre a cada dois anos. Deveríamos também nos preocupar com fato de que um apocalipse ecológico teria consequências diferentes para diferentes castas humanas.

Não existe justiça na história!

Quando corre uma catástrofe, o pobre sempre sofre mais do que o rico, mesmo que tenham sido os ricos os causadores da tragédia.

O aquecimento global já está afetando mais a vida de pessoas pobres nos países áridos da áfrica do que a vida de ocidentais abastados( com exceção as casas californianas e australianas em virtude dos incêndios). Paradoxalmente, o poder da ciência pode fazer com que o perigo aumente, porque ele faz os ricos serem mais complacentes, já que esta tudo assegurado mesmo.

Considere o efeito estufa das emissões de gases. A maioria dos estudiosos e um número crescente de políticos reconhecem a realidade do aquecimento global e a magnitude do perigo. Mas esse reconhecimento não acarretou até o momento uma mudança de comportamento. Estamos falando muito sobre aquecimento global, porém, na prática, o gênero humano não quer fazer serio sacrifícios econômicos, sociais o políticos para deter a catástrofe.

Entre 2000 e 2010, às emissões não diminuíram. Pelo contrario, aumentaram a uma taxa anual de dois, 2% comparada com a taxa de crescimento anual de um, 3% entre 1970 e 2000.

O Protocolo de Kyoto de 1997 sobre a redução na emissão de gases visava mais desacelerar o aquecimento global do que interrompê-lo, mas o poluidor número 1 do mundo - os Estados Unidos se recusou a ratificá-lo e não fez nenhuma tentativa significativa de reduzir suas emissões pelo temor de desacelerar seu crescimento econômico.

Em dezembro de 2015, objetivos mais ambiciosos foram estabelecidos pelo acordo de Paris, que reivindica limitar a elevação média da temperatura a 1,5 grau acima dos níveis da epoca pré-industrial.

Mas muitos dos dolorosos passos necessários para atingir esse objetivo foram convenientemente adiados para depois de 2030, ou mesmo para 2ª metade do século 21, o que efetivamente passa essa batata quente para gerações futuras.

As administrações atuais poderiam com isso colher benefícios políticos imediatos de se apresentarem como "verdes", ao passo que o pesado preço político pela redução das emissões( e por tornar o crescimento mais lento) é transmitido a administrações futuras. Mesmo assim, no momento não há muitas certeza de que os Estados Unidos e os outros principais poluidores ratifiquem o acordo de Paris pelo contrario, recentemente o presidente dona trampo(quero dizer Donald Trump) se retirou do acordo de paris.

Um número elevado de políticos e eleitores acreditam que, em quanto economia crescer, cientistas e engenheiros poderão sempre no salvar do dia do Juízo Final.

No que tange a mudança climática, muitos crentes verdadeiros do crescimento mantém esperança de que haverá milagres - mais do que isso, eles tem como certo que milagres vão acontecer.

Olhem a tabela abaixo de emissão de CO2 em milhões de toneladas.

1970 - 15.000 1992 - 23.000 - Cúpula da Terra, Rio de Janeiro 1997 - 24.500 - Protocolo de Kyoto 2008 - 32.000 - Acordo de Copenhagen 2012 - 35.000 - Cúpula da Terra, Rio de Janeiro

Fonte: Banco se Dados se Emissões para Pesquisa Atmosférica Global, Comissão Européia

Quão racional é arriscar o futuro da humanidade na presunção de que o cientistas no futuro farão algumas descobertas? Os presidentes, ministros e executivos que governam o mundo são em geral pessoas muito racionais.

Por que estão dispostos a fazer tal aposta?

Talvez porque pensem que não estão apostando seu futuro pessoal. Mesmo que o que hoje é ruim se torna ainda pior e os cientistas não consigam deter o dilúvio, engenheiros ainda poderiam construir uma arca de noé de alta tecnologia para as castas superiores, enquanto deixam os outros bilhões se afogarem.

A crença nessa arca é atualmente uma das maiores ameaças ao futuro da humanidade e de todo o seu ecossistema.

Pessoas que acreditam nesta a arca de alta tecnologia não deveriam ser colocados no comando da ecologia global, pela mesma razão pela qual não se deve dar armas nucleares a quem acredita numa pós - vida celestial.

E quanto aos pobres? Por que não estamos protestando?

Se e quando o diluvio chegar, caberá a eles todo o ónus da estagnação econômica. Em um mundo capitalista, a vida dos pobres só melhora quando a economia cresce. Daí ser improvável que eles apoiem quaisquer medidas para reduzir futuras ameaças ecológicas que se baseiem na diminuição do ritmo atual de crescimento econômico.

Proteger o meio ambiente é uma ideia muito boa, mas os que não conseguem pagar o aluguel estão muito mais preocupados com o cheque especial do que com o derretimento de cobertura de gelo.

Seja bem-vindo a estratégia 4.0, onde crescimento e sustentabilidade são sinônimos de sobrevivência no presente e dignidade no futuro.

Duval Norah Haraki Autor de Homo Deus

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